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Diego Silva
O cenário é decadente. Possui um armazém abandonado e tem como vizinhos alguns depósitos e transportadoras. Mesmo assim, o preço do metro quadrado na região triplicou em três anos. Esta situação, aparentemente contraditória, é apenas um dos efeitos do chamado ‘boom imobiliário’ que há mais de três anos faz de Santos um canteiro de obras, transformando terrenos baldios em jóias raras do mercado imobiliário.
O local citado acima fica no Valongo e abrigará em breve cerca de seis mil petroleiros, espalhados na futura central de operações da Petrobrás – um complexo empresarial imponente de três torres. Só para a compra do terreno, que possui 25 mil metros quadrados, a companhia desembolsou R$ 15 milhões. Tanto investimento não é à toa. As recentes descobertas de petróleo no pré-sal emprestam à Região um papel estratégico no setor petroquímico brasileiro. A expectativa é que até 2014 os investimentos ultrapassem a casa dos R$ 5 bilhões.
Os números são eloquentes. De fato, estamos assistindo a uma grande valorização da região e a expectativa é que ela alcance (em tempo e dimensão) um desenvolvimento nunca visto antes. A questão que se impõe é: quem será beneficiado por esse crescimento? Até agora a “boa onda” ou “cenário positivo”, como repete a exaustão a grande mídia, estão restritos às megaconstrutoras e corretoras de imóveis. São elas as beneficiadas diretas pela valorização imobiliária de Santos. Para se ter uma idéia, o preço do metro quadrado no bairro Valongo pulou de, em média, R$ 500, em 2007, para R$ 1.500 neste ano. E no caso da nova sede da Petrobrás ainda não foi fixado um tijolo sequer no chão. Isso apenas reforça a natureza especulativa do mercado, que impõe à revelia da realidade social da região preços irreais e abusivos.
Exclusão SocialSe para os magnatas da construção civil “o mar está pra peixe”, o mesmo não se pode dizer em relação à maior parte dos moradores de Santos. Numa entrevista ao portal IG o representante do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci) na Baixada Santista, Carlos Ferreira, diagnosticou com precisão o efeito nocivo do boom imobiliário santista. “Santos vai se tornar uma cidade de ricos”.
Não é de hoje que Santos mudou sua cara. A verticalização não está apenas nos prédios de até 30 andares na orla da praia, mas sim em sua estrutura voltada exclusivamente às famílias com alto poder aquisitivo. A maior parte das corretoras restringiu seu campo de atuação à venda de unidades de luxo, com no mínimo três dormitórios. Programas como Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal, praticamente não existem, uma vez que limitam o valor do imóvel em R$ 130 mil.
O resultado é a fuga crescente de famílias de média e baixa renda para municípios vizinhos, onde o custo de vida é menor. Casos de petroleiros que foram transferidos para Santos e não suportaram o custo de vida da cidade são cada vez mais frequentes. Alguns mantêm suas famílias na cidade de origem e moram em repúblicas; e há aqueles que usam como saída comprar um imóvel em São Vicente ou Praia Grande.
A elitização vivenciada pela cidade pode ser vista em ruas sofisticadas como a Azevedo Sodré, no Gonzaga, bairro onde o metro quadrado não sai por menos de R$ 5 mil – cifra equivalente a de bairros nobres da Capital como Jardins, Brooklin, Pinheiros e Perdizes. Se por um lado a valorização dos poucos terrenos disponíveis inviabiliza apartamentos a preços populares, por outro estimula e banaliza a venda de unidades de luxo por R$ 2 milhões e coberturas com vista para o mar que podem ser ocupadas por “apenas” R$ 12 milhões.
O debate sobre a forma como essa riqueza será distribuida já tomou conta da categoria petroleira. Por isso, iremos cobrar e exigir das autoridades públicas medidas que bloqueiam a elitização da cidade. Uma das alternativas para combater o avanço indiscriminado da especulação seria, por exemplo, a criação de um imposto progressivo para aqueles terrenos ociosos ou que, nem mesmo, são vendidos, justamente para inflacionar os preços do mercado imobiliário.
O fato é que é necessário estimular a discussão sobre este assunto com toda a população. Os efeitos das novas atividades petrolíferas em Santos e na Baixada Santista não podem ficar restritas às mesas de negociações dos administradores públicos. O Sindipetro-LP, desde já, faz esta cobrança.
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